Empreendedorismo feminino, um mecanismo de mudança – Milton Luiz de Melo Santos, presidente da ACCREDITO
O cenário não é cor de rosa
O consórcio GEM (Global Entrepreneurship Monitor), uma das mais reconhecidas comunidades globais sobre empreendedorismo, concorda em seu Relatório “Covid Impact Report” que, juntamente com a Gripe Espanhola (1918), a Grande Depressão (1929), as duas Guerras Mundiais (1914-198 e 1939-1945), os ataques de 11 de setembro ao WTC (2001) e a crise financeira global (2008), “a COVID-19 é um “black swan” (cisne negro) de proporções épicas, que veio para “mudar drasticamente a face dos negócios, da indústria e da “vida como a conhecíamos” em todo o mundo”. O termo “black swan” foi popularizado por caracterizar aqueles eventos que são imprevisíveis, impactantes e que, depois de ocorrido, abrem espaço para explicações que tentam “normalizá-lo”, tratando-o como menos aleatório e mais previsível. Na verdade, muitos analistas de mercado discordam de classificar a COVID 19 como um “black swan”, especialmente porque consideram que importantes casas de análise como Société Générale e Sequoia Capital, já nos primeiros dias de 2020, alertavam em seus relatórios para o risco de uma desaceleração econômica global em função do vírus.
De concreto, o que se vê nesta resultante é muito mais desafiador do que a mera discussão acadêmica de “quanto” ou “como” poderíamos ter evitado o atual cenário. Testemunhamos dramáticas mudanças – tanto no comportamento da sociedade quanto nos relacionamentos econômicos – e a única certeza que temos é de que elas vieram para ficar. A realidade é disruptiva e atualmente os “cisnes” se apresentam em muitas cores.
De patinho feio a cisne – o protagonismo feminino em foco
Se, por um lado, a pandemia nos fez ficar “em casa”, por outro, obrigou-nos, também, a sair da zona de conforto e questionar a forma como nos relacionamos como sociedade: sistemas de trabalho, de governo, de formulação política, as inovações tecnológicas e mais uma miríade de temas. Mas, acima de tudo, a COVID 19 nos fez enxergar a enorme vulnerabilidade de todas essas relações. É inquestionável que os impactos da crise sanitária foram sentidos mais intensamente pelos vulneráveis – sejam pessoas ou empresas – mas, chama a atenção a disparidade dos seus efeitos entre homens e mulheres, aprofundando ainda mais a antiga questão de equidade de gênero.
O isolamento social significou desemprego ou diminuição drástica na renda de grande parte da população brasileira, mas, certamente, as mulheres foram as mais afetadas. Considerando os dados do mercado de trabalho nacional, verifica-se que a participação percentual da força feminina caiu cerca de 14% entre 2019 e 2020. Também pela avaliação de dados do CAGED, as mulheres foram as primeiras a perder seus empregos com carteira assinada dentro do núcleo familiar.
Portanto, a necessidade de superar o desemprego estrutural levou muitas destas brasileiras a procurarem no empreendedorismo uma alternativa para sua subsistência. Como importante impulsionador do desenvolvimento econômico e do empoderamento das mulheres em todo o mundo, o empreendedorismo tem se mostrado uma ferramenta excepcionalmente poderosa, propiciando inclusão social, segurança, renda e gerando um motor para a mudança.
Mulher empreendedora
O Brasil hoje tem mais de 24 milhões de mulheres empreendedoras, segundo dados de estudo GEM-SEBRAE. São mulheres que buscam independência financeira, equilíbrio entre trabalho/família e, na sua grande maioria, uma forma real de sustento de seu lar.
Na recente pesquisa “Empreendedoras e seus negócios 2020: recorte dos impactos da pandemia”, conduzida pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, 46% dos negócios liderados por mulheres se concentram no setor de serviços e 50% desta base têm um faturamento médio de até R$ 2,5 mil/mês. Mesmo tendo maior índice de formalização de empresas e sendo mais adimplentes do que seus pares masculinos, as empreendedoras têm enorme dificuldade de acesso ao crédito para alavancarem seus negócios.
Conversando com Ana Cláudia Badra Cotait, presidente do CMEC – Conselho da Mulher Empreendedora e Cultura, órgão da FACESP- Federação da Associações Comerciais do Estado de São Paulo, ela me trouxe informações de que a mulher empreendedora no Brasil, em geral, não tem uma experiência satisfatória com as instituições financeiras tradicionais quando busca recursos para empreender e crescer em suas iniciativas. Normalmente, elas não têm acesso à bancarização formal e isto complica muito a busca por crédito e financiamento.
Como presidente de uma instituição financeira – a ACCREDITO Sociedade de Crédito Direto – tenho consciência de que são insuficientes e, por vezes, extremamente burocráticas as iniciativas de microcrédito voltadas a este segmento. Diante disso, e como parte de uma iniciativa de auxílio e enfretamento à crise, unimos nossas forças e conhecimentos em uma parceria com o CMEC na criação de um programa de microcrédito para estimular as mulheres a empreender, gerar negócios e transformar a sua realidade. Tudo isso em uma plataforma 100% digital, sem a burocracia bancária tradicional e sem exigir garantias físicas para acesso às linhas de crédito de até R$ 8 mil: o PROGRAMA ACCREDITO – Mulher Empreendedora. O programa reveste-se, portanto, de um importante papel social na medida em que fomenta a geração de renda e a independência financeira destas pequenas empresárias. Incentivar o empreendedorismo destas mulheres, com oferta de crédito produtivo e orientado, é fortalecer este segmento relevante de nossa sociedade.
As barreiras enfrentadas por mulheres empreendedoras são estruturais e envolvem questões mais complexas do que somente aquelas relacionadas à pandemia. Para mudarmos esta realidade será necessária a construção de um sólido “ecossistema” para o empreendedorismo, com incentivos fiscais, regulação, linhas de crédito, transferência de tecnologia, capacitação e apoio logístico. Seguimos acreditando que iniciativas individuais, tais como o PROGRAMA ACCREDITO – Mulher Empreendedora, podem lançar sementes para garantir que se incluam sempre mais protagonistas na ciranda econômica. Afinal, qualquer mudança sempre exigirá o compromisso mútuo entre homens, mulheres, empresas, governo e sociedade.
Milton Luiz de Melo Santos é economista, presidente da ACCREDITO Sociedade de Crédito Direto.
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